Por Maria Espírito Santo, publicado em 21 Maio 2012 – 13:36 | Actualizado há 1 semana 1 hora

Não é proibido nem feio. É até saudável partilhar devaneios eróticos. Quem defende a teoria é a escritora maiorquina que levou um ano a juntar as fantasias e as histórias íntimas mais inverosímeis, sinistras, divertidas e excêntricas de sempre. Há Gandhi, Hitler, Julio Inglesias, Scarlett Johansson, Madonna ou Amy Winehouse numa animada comunhão em “Las 1001 fantasías más eróticas y salvajes de la historia”. Maria Espírito Santo falou com Roser Amills, a mulher atrás da obra

Esta história começa pausada e a rimar, com poesia. Erótica. Foi enquanto escrevia para o livro de poemas “Morbo” que a autora maiorquina percebeu que queria fazer algo completamente diferente. Começou a pensar na possibilidade de escrever sobre as fantasias dos famosos. “Investiguei o que tinham dito ou escrito alguns personagens que admiro. A minha curiosidade encarregou-se do resto”, explica sobre a pesquisa para poesia que entretanto a trouxe até aqui. “Las 1001 fantasías sexuales más eróticas y salvajes de la historia”, lançado em Março, é o resultado da aventura. Um título longo para um conceito muito simples: conhecer as fantasias e histórias íntimas de personagens que marcam a história, de Gandhi a Madonna.

Foi um ano passado entre serões animados com amigos e entre livros e outros textos: “Lia uma biografia que me levava a outra e outra a seguir, cartas pessoais, crónicas”, explica Roser. Mas também foi “rato de biblioteca”, confessa, para pesquisar detalhes sobre a vida de personagens históricos.

Durante o processo ia cruzando informação, para comprovar a veracidade. Outras vezes encontrou em contacto com as pessoas em questão. “Quando os abordava para perguntar qual era a fantasia  favorita, sorriam”, diz. Precisamente o que aconteceu com o premiado escritor catalão Juan Marsé, que lhe revelou fantasias inéditas. Roser revela o seu método: “Ao princípio contava as de outras personagens para as estimular a escolher a sua. Ao fim e ao cabo as fantasias eróticas são os contos de fadas para adultos e apetece sempre que te contem uma, não?”

Que Amy Winehouse gostava de spanking ou que Ghandi dormia com mulheres nuas para comprovar a sua resistência à tentação. Que Patti Smith se masturbava e tinha orgasmos enquanto escrevia ou que Mick Jagger gosta de chocolate entre as pernas da parceira são alguns exemplos das fantasias e também histórias caricatas incluídas no livro. A proporção de homens é igual à de mulheres, de uns rigorosos 50/50, garante a escritora. Há ainda triângulos amorosos, como o de Paul Éluard, Max Ernst e Gala e outras relações curiosas como a de Leonard Cohen e Iggy Pop. Para o “como” e “porquê” há que folhear as histórias que “dariam para muitas novelas”, acredita Roser. “Conto a essência mais hot, o leitor que imagine o resto.”

Além das 1001 histórias que a escritora conta no livro, guarda outras tantas que vai revelando no blogue (www.roseramills.com). “Podia contar outras mil”, garante. Do livro destaca uma em particular: a de Catalina de Siena, uma santa católica que tinha visões. Inclusive teve uma em que Jesus a pediu em casamento com um anel feito da pele do seu prepúcio. “Foi santificada e à Igreja tudo isso parece muito bem”, comenta.

“Não é um livro frívolo”, apressa-se a anunciar, sem antes explicar porquê: “Revelar as fantasias eróticas de personagens célebres é um bom primeiro passo porque permite que outros se acostumem a fazê-lo, se sintam identificados e digam: ‘Porquê esconder-me? Aquilo de que gosto não é assim tão estranho. Freud, Jagger, Einstein, Maddona ou Winehouse também gostavam.”

Biografia. Roser estudou Filologia e começou a trabalhar como revisora, aos 19 anos, no Grupo Zeta, uma empresa de comunicação. Foi a rever o texto dos outros que deu a conhecer a sua própria criatividade. Hoje vive em Barcelona, trabalha há vários anos como freelancer, tem quatro livros de poesia erótica publicados e também um blogue no “La Vanguardia”. “Las 1001 fantasías más eróticas y salvajes de la história” (que foi lançado em Espanha em duas versões, a castelhana e a catalã) é o primeiro ensaio que publica.

“Com sete anos anunciei à minha mãe que seria escritora. Ela sorriu e não acreditou em mim”, conta. Trinta anos depois tudo mudou e o erotismo tornou-se uma espécie de instrumento de ver, analisar o mundo. Uma mulher sem medos de tratar as coisas pelos nomes. “Ainda bem que estamos no século xxi e posso falar sobre tudo isto num livro. Oxalá muitos escritores façam o mesmo e sigam esse caminho, de deixar de se comportar como puritanos vitorianos.”

A autora realça que, no entanto, se deve falar de sexo com inteligência. Deve fazer parte do crescimento saudável de cada um. “Confio, sou optimista”, deixa bem claro. “Num futuro não muito longínquo as pessoas vão poder falar sobre sexo para crescer como pessoas e não só para se excitarem. Cresceremos como indivíduos e seremos mais felizes.”

Comparte y comenta esta entrada: